segunda-feira, março 06, 2006

Jonathan

Os bebés aparecem primeiro nos sonhos. Na noite de 21 para 22 de Março de 1965, o meu filho estava caído num prado, junto a cavalos com asas que distraidamente comiam. Envolto em panos presos por alfinetes de ama, o meu filho sangrava com abundância, mas não havia feridas no seu corpo adulto - apenas o sangue que brilhava, e os seus olhos e os seus dentes cerrados, rangendo, como numa febre.

Eu estava a seguir o sonho, a perseguir o céu que acima de mim obscurecia - como no Inverno, só que mais rápido. O sonho dentro do sonho, um pé de fora do cobertor, do sonho. Dizer que não a tudo isso. E o sonho regressava implacável - uma vaga - o meu corpo adormecido suado na cama a remexer-se dizendo não, os gemidos do meu filho moribundo. A lua a levantar-se, os cavalos dispersavam, rápidos, brancos, de súbito.

O meu filho de repente pairava diante de mim, anzóis que finalmente lhe rasgavam a pele e o puxavam para cima, para o céu. Ele suplicou-me numa voz rouca: "Faz-me!".

Por isso, na noite seguinte eu saí à rua e entreguei-me, mulher, na minha inocência, a minha inocência - ao rapaz distante e calado, de sorriso amarelo e rosetas na cara.


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