terça-feira, março 21, 2006

Düsseldorf, 1992

No segundo andar da antiga casa, numa marginal residencial ao Reno, os dois irmãos procuram entreter-se, por entre retratos cinzentos de família, por debaixo de um telhado outrora esburacado pela guerra, por cima de um soalho de madeira que range histericamente.

Submergindo na escuridão dos armários, emergem pouco depois vitoriosos, às gargalhadas, com uma pequena caixa de cartolina. Abrem-na, retiram do seu interior um grande painel colorido com o mapa do mundo e cobrem-no com pequenas peças bélicas em plástico. Deixam depois rolar os dados da sorte e as cartas ditar o destino.

Os frágeis passos da senhora, de óculos de leitura a balouçar na cana do nariz, prenunciam o fim da fantasia. Quando entra na sala e vê os netos estendidos no chão à conquista do mundo, estremece. “Isto não se joga aqui em casa”, diz, de voz rouca e tremida, enquanto junta as peças, dobra o mapa e faz a caixa de cartolina voltar a desaparecer nas profundezas do armário.


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