sexta-feira, julho 09, 2004

Rio das Pérolas (I)

Eu segurava a mão dela junto ao Rio das Pérolas, e era noite ou pelo menos assim me lembro e eu segurava a mão dela - e a água estava quente, sem ondas. Saltávamos rochedos.
E pelo menos é assim que ela se lembra porque do Rio das Pérolas eu só guardo a escuridão, a água parda e quente, e a vaga memória de um toque. Um afago. O que poderia ser a mão dela, ou talvez outra coisa.
Eu estava cansado e não queria falar com ninguém. E, no Rio das Pérolas, apenas os olhos dela (ou o que eles significavam) serviam para me manter desperto. E mesmo assim não era suficiente para me aperceber de nada. Tudo me escapava, não me sentia vivo.
Os olhos dela em Lisboa, depois os olhos dela num avião qualquer, eu a perder os olhos dela num quarto de hotel em Macau enquanto ela me deixava deitado na cama a torcer-me de pena. E juro que, se pudesse guardar para sempre o que os olhos dela significavam para mim, eu não necessitaria de procurar mais, e poderia enfim descansar.


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